A Madicina Tradicional Chinesa, explica a origem das doenças, por três tipos de causas: as cósmicas, as alimentares e as psíquicas.
As cósmicas, apóiam-se tal como o nome deixa transparecer, em questões relacionadas com a cosmogénese. E se facilmente constatamos, que as influências astrais são indiscutíveis em determinados casos, tais como, a coincidência dos enfartes com as erupções solares ou a dos ataques de loucura, com a fase da Lua Cheia, outras extrapolações não são facilmente digeridas pelos ocidentais, ainda que aconteçam com alguma percentualidade comprovante.
Questões culturais, no entanto, advertem-se de que não devemos pôr esta causalidade totalmente de parte, pois não temos a certeza exata de estar a entender a questão, pelo mesmo prisma dos orientais.
Quanto às causas alimentares, elas traduzem o mesmo ponto de vista dos dietistas ocidental, quando fala em má nutrição e em desequilíbrio alimentar, só que os chineses classificam os alimentos por sabores, ajustando-os aos órgãos que os tutelam pelo que se torna quase impossível, criar-se uma frente comum para as causas alimentares.
No respeitante às causas psíquicas, os chineses classificaram-nas de tal maneira que as grandes tendências do comportamento emocional se englobam perfeitamente no estudo feito pelo neuro-fisiologista Mac Lean, o qual distingue seis emoções principais, a saber:
*O desejo, que leva à procura.
*A cólera, que produz a agressividade.
*O medo, de que resulta a necessidade de proteção.
*A tristeza, que leva ao abatimento.
*A alegria, que faz nascer à gratidão.
*O afeto, que se manifesta pelo carinho.
Os chineses acreditam, que qualquer dessas tendências por si só, poderá vir a afetar não apenas o sistema, desorganizando-o, mas também muito particularmente o meridiano e o órgão respectivos, sobre os quais atua. Quando tal acontece, dá-se certo esvaziamento energético, que é altamente favorável à penetração de energias perversas, contendo em si agentes patogênicos. Cada órgão interno principal, ou seja, o fígado, o coração, o baço, o pulmão e o rim, são alimentados por sangue e energia.
O primeiro é conduzido através de vasos e a segunda por canais chamados meridianos. Só assim cada órgão, pode cumprir acertadamente, a sua função relativamente ao sangue, designadamente, o fígado depurá-lo, o coração distribuí-lo, o baço armazená-lo, o pulmão trocá-lo e finalmente o rim eliminar-lhe as impurezas.
Do ponto de vista da energia, ou seja, do chamado JING QI, sabe-se que cada órgão elabora uma energia específica essencial, que vai circular pelos oito meridianos curiosos e pelos doze vasos secundários, os quais se irão naturalmente ligar no final dos seus trajetos, aos doze meridianos principais. Todos os meridianos curiosos e restantes vasos têm trajetos centrípetos. Partem de qualquer dos membros, vão ao órgão interno que lhes dá o nome, encaminham-se para o coração e ascendem ao cérebro. No coração, elabora-se com esse JING outra essência de natureza psíquica, sendo que consoante a origem do órgão que a elabora, tomará diferentes nomes, em virtude de servir também distintos fins.
Assim teremos o seguinte quadro:
No Fígado aparece o HUN, que governa o movimento psíquico de exteriorização e que se manifesta pela Cólera.
No Coração aparece o SHEN, que governa as emoções e que se manifesta pela Alegria.
No Baço aparece o YI, que governa a consciência e se manifesta pela Reflexão.
No Pulmão aparece o PO, que governa o movimento de interiorização e se manifesta pela Tristeza.
No Rim aparece o ZHI, que governa o instinto de conservação e que se manifesta pelo Medo.
O termo “Shen” traduz-se por “Alma Vegetativa”. Alma para dar um conteúdo metafísico, Yang ao seu princípio originário e vegetativo, para dar conteúdo metafísico e conseguentemente Yin.
Temos então que compreender, que qualquer excesso do órgão fígado, por exemplo, levará a um excesso de HUN e, portanto, a um comportamento colérico. Pelo contrário, se existir deficiência de fígado, também o haverá de HUN, o que levará a um comportamento tímido. Ansioso e pouco determinado.
A relação contrária é também verdadeira, ou seja, alguém que desenvolve a sua cólera, a sua agressividade, acabará certamente por perturbar o funcionamento do órgão fígado.
Temos de compreender que o JING do ponto de vista endocrinológico, deverá representar as secreções hormonais de cada órgão. No caso, por exemplo, do rim, (que como sabemos os chineses, relacionam com as gônadas) o seu JING deverá corresponder à secreção de testosterona e de progesterona, enquanto o shen representará as conseqüências sobre o comportamento psíquico, da secreção endócrina do ZHI.
Tudo isto nos parecerá ainda mais plausível, se estabelecermos um paralelismo entre o excesso do vento do fígado e o hipertiróidismo, que se revela por efeito da irritabilidade, originando enervamento, que é acompanhado de hipertonicidade muscular. Este mesmo excesso está também relacionado com a produção de foliculina, daí surgirem as mastites e as menstruações dolorosas.
Quer o JING, quer o shen circulam segundo a M.T.C., imaterialmente e de forma autônoma, pelos vasos sanguíneos e pelos meridianos, como acontece com as hormonas. Além disso, e contrariando a neuro-fisiologia ocidental, que considera o cérebro ou mais especificamente o tálamo, o hipotálamo e a hipófise, como os diretores do sistema neuro-endócrino, a M.T.C., estabelece, que é ao coração que cabe esse papel de grande controlador. De fato nós ocidentais cremos, que o coração é como que uma bomba hidráulica, que apenas tem por função manter ininterrupta, a circulação sanguínea. Acontece, porém, que o coração de que falamos, não é o órgão anátomo-fisiológico em si, mas outro, com uma estrutura imaterial, centro organizador energético, em perfeita comunhão com os meridianos na sua globalidade.
Chegados a este ponto temos de clarificar o seguinte: os ocidentais acham que tudo se organiza no cérebro, sendo este maestro do comportamento. Enquanto isto, os chineses acreditam que numa fase inicial, o comportamento é elaborado pelo coração e que só ulteriormente, ascenderá ao cérebro para ser executado.
Passando em revista todas as culturas tradicionalistas, vemos que elas estão todas em sintonia, desde o Yoga, que considera que o EU está alojado, no centro energético do coração, até a nossa própria cultura tradicional, que nos faz dizer frases como estas: “tem um coração enorme”, “tem um coração de santo”, expressões metafóricas, carregadas de sentido e que se complementam com o provérbio que nos diz ter o coração razões, que a razão desconhece, são ótimos exemplos do ascendente que o coração tem sobre o cérebro.
Voltando a M.T.C., temos de salientar a extrema importância do coração na fisiologia chinesa, tanto mais realçada, pela linguagem alegórica chinesa, em que é considerado, o Imperador, sendo todos os outros órgãos, ministros ou funcionários ao serviço do Imperador.
*Podemos, portanto, deduzir que o cérebro não tem liberdade total, de organizar os fenômenos bioquímicos e que estes são primeiramente, comandados pelo coração.
O Coração, em Medicina Tradicional Chinesa, é visto como o rei, o governante supremo e estabelece a ordem em todo o Sistema Corpo / Mente. Pertence ao elemento Fogo. Este é o elemento que irradia luz e calor. JL