domingo, 15 de maio de 2011

A Morte / Cátia Menezes.


Desde nova, aprendi que nascer e morrer faz parte de um fenômeno comum e necessário.
Tudo nasce, tudo se desenvolve, mas tudo se definha. Sempre há um tempo de partir.
Mas a morte, quando nos pega de surpresa, parece uma piada de humor negro.
A morte vem lambuzada com lágrimas, tristezas e traz consigo uma placa com letras gigantes e reluzentes, escrito: Perda Fatal.

No jogo da minha vida, a carta da morte não apareceu muitas vezes, mas sinto que daqui a algum tempo, ela irá aparecer e desestruturar muita coisa por aqui.
Ver o lado bom, quer dizer, o que podemos nutrir de ensinamento com as fatalidades, sempre foi um mérito meu. Sempre tive um grande entendimento em relação ao porquê que os empecilhos surgem durante nossa caminhada, nesta escola temporária.

Mas não sei o quão forte serei. Vou perder a coluna vertebral que me sustenta; o meu mestre mais sábio; a leveza de um espírito que tinha tanto a ensinar.

Vou perder a proximidade que tinha com o céu, ao olhar os seus olhos.
Vou perder a equidade e a balança da justiça, contida em uma só pessoa.
Vou perder o sentido do amor, na sua forma mais simples e pura.
A cumplicidade de olhares, o calor dos abraços, as risadas verdadeiras.
Vou perder tanta coisa...mas certamente, já ganhei mais do que merecia.
Isso me conforta!
Sou uma privilegiada!

Um pai que foi preparado, especialmente, para mim; para iluminar meu caminho, para me mostrar minha verdadeira essência, abrir as portas do conhecimento e me dar asas para aprender a voar e a buscar o ninho mais seguro para poder me alojar.
Provou-me que a evolução está dentro de nós, precisamos aprender com nossos acertos e erros.
Acima de tudo, mostrou-me o perigo da generalização, de sermos totalitários e radicais.
Há sempre um outro lado, que também deve ser avaliado, humanizado e sensibilizado.

Com ele, aprendi que ser flexível não é perda de personalidade ou ser volúvel, mas ser acessível à compreensão das coisas e pessoas.
Cada história que me contou, muitas não sei se verdadeiras ou não, foram mais que ensinamentos. Usadas, diariamente, em minha vida.

Instruiu-me a perceber:

Que lucro é útil;o exagero é cobiça.
Que a religião é evolução;o exagero é fanatismo.
Que casa é necessário;o exagero é futilidade.
Que lazer é saudável;o exagero é ociosidade, etc.

Não sei se ele tem consciência do quanto é essencial em minha vida e do quanto vai fazer falta. Mas uma coisa é certa, permanecerá vivo em meu pensamento, em cada dia de minha vida;em cada nascer e pôr do sol.

Toda noite peço forças para que quando este dia chegar, eu tenha lucidez para compreender que é preciso que tudo se “destrua” para renascer e se regenerar. Que essa “destruição” não passa de uma transformação, que tem por fim a renovação e melhoria dos seres vivos.

Peço para que seja compreensível as minhas lamentações, pesares, prantos e suspiros. Os muitos murmúrios que darei serão provimentos gradativos e difíceis, através do qual, eu como criatura, passarei a aceitar lentamente a ausência- mesmo convicta de sua temporalidade.

Vou superar, quero superar!
Ao olhar para os olhos da morte, verei que ela está viva e a interpretarei como um momento de renovação inerente à natureza. Inquestionavelmente, é um período que antecederá o meu reencontro com este ser tão iluminado e bondoso, no qual tive a oportunidade de conhecer e conviver,neste plano.

O Criador não faz cópias. Cada um é um projeto da Natureza e ele será, para mim, eternamente singular e especial.

'Cátia Menezes'

"Por mais longe que o espírito alcance, não vai tão longe quanto o coração."

*Inicio / Fim... Nascimento / morte... viemos do vazio ... JL.

Um comentário:

  1. Filha querida!!! Emociono-me toda vez que leio o teu texto. Homenegem mais linda, verdadeira e profunda essa que tu fizeste ao teu avô. Na tua idade escrever o que tu escreves é um dom divino, criativo e abençoado. Ta amo, e sou tua fã incondicional. Que bom que vc existe na minha vida e na minha familia. Amo vc e esse baby que esperas, kiss, kiss

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