“Todo mundo fica feio com raiva”.
Brasileira que virou monja tibetana fala sobre a “moda” da meditação e de sua relação com a estética.
Foi dentro do Cine Bardot, em Búzios, no Rio de Janeiro, que ela ouviu falar em Dalai Lama pela primeira vez. Era 1999, ela tinha 27anos e assistia a “Sete Anos no Tibet” – filme sobre a história de um alpinista austríaco e seu encontro com o monge tibetano.
Duas semanas depois, soube que ele viria ao Brasil, numa visita a Curitiba. Não titubeou: a paranaense formada em computação, que administrava uma pousada em Búzios, voou para sua terra natal.
Acabou trocando o litoral fluminense por Índia e Nepal e iniciou uma trajetória que a transformou na monja Tenzin Namdrol, em 2004, com votos recebidos pelo próprio Dalai Lama.
Depois de oito anos fora do país, Tenzin Namdrol, que prefere ser chamada apenas de monja, acaba de voltar para o Brasil. Tem freqüentado o centro budista Shiwa Lha, no Largo do Machado, para suas meditações – prática que arrebanha adeptos ocidentais e traz benefícios para o bem-estar, a saúde e, quem sabe, a beleza.
Num intervalo no workshop que deu sobre o assunto, ela conversou com a revista. Simpática, de voz firme, mas mansa, ela fala sobre a ‘moda’ da meditação e de sua possível relação com a estética.
Entrevista:
- Já vi pessoas e até anúncios de meditação falando que praticar emagrece. É verdade? Traz algum benefício para a aparência?
TN – Dalai Lama sempre brinca que todo mundo tem vontade de ser bonito, mas você já se olhou no espelho quando está com raiva? Todo mundo fica muito feio com raiva. Pensando por aí, a meditação pode ajudar, porque ela ajuda a lidar com este sentimento e a controlá-lo. Na filosofia budista, não é errado querer ser bonito, ao contrário, se você tem estética, você é agradável. Mas não posso afirmar que meditar emagrece ou faz bem à pele, por exemplo.
A meditação serve para a gente conhecer as emoções, os pensamentos que surgem e como cada um nos afeta. Quando nos damos conta, já estamos sentindo raiva, inveja, ciúme...
A meditação ajuda a entender o processo de como chegamos a esses sentimentos. Aprendemos, assim, a lidar melhor com nossas emoções.
- E traz bem-estar...
TN – Da mesma forma que a gente precisa ir a uma academia fazer exercícios, porque sabe que é importante para o corpo, a meditação cumpre esse papel para o nosso bem-estar. Tem que acabar com a idéia de que ela é cultural, oriental. É, inicialmente, para a gente se conhecer. Não é para ser vista como um hobby nem um ritual. Tem que fazer parte da rotina, como escovar os dentes.
E também não deve ser encarada como algo que está na moda. Não é para fazer só para contar aos amigos ou ficar numa posição apenas para o vizinho ver.
- E em que a prática pode ajudar no dia a dia?
TN – Muito do estresse que a gente tem hoje vem do volume de coisas que precisamos fazer. Mas também deve-se muito à forma como a gente faz isso tudo.
Constantemente, tudo é uma emergência na nossa vida, no nosso trabalho, em casa. É importante que você consiga fazer uma única tarefa, decidir que é aquilo que você vai focar e se concentrar, sem se dispersar ou se afobar por causa do que ainda precisa ser feito.
- Qual o maior erro que cometemos na hora da meditação: seria esse de encarar como moda?
TN – O maior obstáculo do ocidente é querer tudo o mais rapidamente possível. É a falta de paciência, o imediatismo. Para você ter realmente resultado na meditação, ela tem que ser constante e disciplinada. É preciso um certo esforço para incluir a prática no dia a dia.
- Qual a meditação mais simples para quem quer começar?
TN – Escolha um cantinho da sua casa que você se sinta bem. Sente-se confortavelmente, seja no chão ou numa cadeira. O importante é a coluna ficar ereta e, caso escolha a cadeira, deixar os pés no chão. Prepare a mente perguntando por que você quer meditar. Isso servirá como uma motivação.
“Eu quero diminuir certas aflições, sou muito ambiciosa, etc”.
Depois, basta prestar atenção na respiração abdominal. Respire normalmente, nem rápido, nem devagar. Você começa a ficar mais focada e concentrada. O processo todo pode durar só 15 minutos.
Mantenha os olhos semi-abertos, olhando meio para baixo, na altura do nariz. Se fechar, a tendência é dar sonolência. E ficar com os olhos totalmente abertos distrai. O que faz a gente não conseguir meditar, na maioria das vezes, é ficar muito disperso ou apático.
- Prestar atenção na respiração é uma técnica para você parar de pensar?
TN – Não. Uma coisa que a gente precisa entender é que a gente não vai parar de pensar. Quando você coloca a atenção na respiração, deixa o pensamento ir e vir.
Eles virão, mas você não precisa segui-los. Não precisa desviar do que está fazendo nem ficar frustrado e desistir. É só deixar o pensamento ir embora.
Fonte: A Tribuna.
*Nos preocupamos e cuidamos muito com nossa estética... Fator exterior. E o quanto que nos preocupamos e cuidamos com relação a nossa mente... Fator interior? JL