sábado, 8 de setembro de 2012

O Início, O Fim e O Meio...




Morte...
Eu sei que determinada rua que eu já passei
Não tornará a ouvir o som dos meus passos
Tem uma revista que eu guardo a muitos anos
E que nunca mais eu vou abrir
Cada vez que eu me despeço de uma pessoa
Pode ser que essa pessoa esteja me vendo pela última vez
A morte, surda, caminha ao meu lado
E eu não sei em que esquina ela vai me beijar
Com que rosto ela virá?
Será que ela vai deixar eu acabar o que eu tenho que fazer?
Ou será que ela vai me pegar no meio do copo de uísque,
Na música que eu deixei para compor amanhã?
Será que ela vai esperar eu apagar o cigarro no cinzeiro?
Virá antes de eu encontrar a mulher, a mulher que me foi destinada,
E que está em algum lugar me esperando
Embora eu ainda não a conheça?
Vou te encontrar Vestida de cetim
Pois em qualquer lugar
Esperas só por mim
E no teu beijo
Provar o gosto estranho
Que eu quero e não desejo
Mas tenho que encontrar
Vem Mas demore a chegar
Eu te detesto e amo
Morte, morte, morte que talvez
Seja o segredo desta vida
Qual será a forma da minha morte
Uma das tantas coisas que eu não escolhi na vida
Existem tantas maneiras de morrer...um acidente de carro
O coração que se recusa a bater no próximo minuto
A anestesia mal-aplicada
A vida mal-vivida
A ferida mal curada
A dor já envelhecida
O câncer já espalhado e ainda escondido
Ou até, quem sabe,
O escorregão idiota num dia de sol
A cabeça no meio-fio... A morte, tu que és tão forte
Que matas o gato, o rato e o homem
Vista-se com a tua mais bela roupa quando vieres
Me buscar
Que meu corpo seja cremado
E que minhas cinzas alimentem a erva
E que a erva alimente outro homem como eu
Porque eu continuarei neste homem
Nos meus filhos
Na palavra rude que eu disse para alguém
Que não gostava
E até no uísque que eu não terminei de beber / Aquela noite...

'Raul Seixas'.

*Texto citado no fim do filme, O Início, O fim e O Meio...
Acabo de ver o filme “O início, o fim e o meio”, e adorei o documentário, a sensação que ficou foi aquela que faz jus a genialidade de Raul Seixas eternizado em suas canções. O documentário é revelador, confirmador e aberto. Tudo é uma grande homenagem ao Raul Seixas e sua intensa vida curta que teve, que acima de tudo foi um grande e único artista que o país teve, teve seus momentos ruins, mas ficou como disse no início a genialidade eterna, independente da idade e época, pois segundo ele não fazia musica de protesto, e sim "Raul Seixismo".
Para as pessoas que são muito novas e não compartilham do mesmo entusiasmo por suas músicas, talvez soe meio surreal... Partiu o artista ‘Raul’, ficou eternizado o Mito! Fez parte da minha vida!
Sou Fã! Toca Raul! JL

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