Será que a prática milenar dos monges budistas pode substituir os antidepressivos?
Os anos 90 representaram um marco na compreensão da mente humana.
O cérebro foi parar na tela de computadores, segredos da química psíquica foram aos poucos desvendados e, animados com o que viam, os cientistas começaram a desenvolver uma nova safra de moléculas, destinadas a curar toda sorte de males e transtornos mentais.
Freud foi comparado a um xamã e começou a era do prozac, alardeado como a droga da felicidade. Bastava tomar uma pílula e tudo estava resolvido: depressão, ansiedade, o fora da namorada e a angústia existencial. Pois este século começa com mais uma reviravolta nos estudos sobre a mente.
Pesquisas de instituições respeitadas do mundo inteiro sugerem que os mais modernos antidepressivos podem, em muitos casos, ser substituídos ou pelo menos complementados – por uma das mais antigas práticas do budismo: a meditação. “Há vários estudos demonstrando que a meditação é muito útil no tratamento de depressão, da ansiedade e do stress”, afirma S. Lazar, neurocientista do Massachusetts G. Hospital.
Nos Estados Unidos, meditar virou uma mania. Várias escolas de medicina transformaram a meditação em disciplina.
Hospitais oferecem espaços e orientação para tranqüilizar pacientes antes de cirurgias, pois, de acordo com pesquisas, quem medita necessita de doses menores de anestesia.
Instrutores ensinam a técnica nas cadeias para tentar reduzir os índices de violência. Funcionários de repartições públicas e de grandes empresas como o Google e a Hughes Aircraft interrompem o trabalho para meditar porque, segundo consultores, isso aumenta a produtividade.
‘Existem pessoas preparadas para curas mais sutis’.
*Dois Fatores explicam a atual onda da meditação:
O primeiro é o descontentamento do homem moderno diante de uma rotina de trabalho cada vez mais desgastante. Meditar é uma boa oportunidade para dar um tempo, desligar, ou numa palavra “desacelerar”.
O segundo fator é o aval que a prática milenar de monges tibetanos tem recebido de gente séria ligada à ciência ocidental.
O neurocientista americano R. Davidson, afirma que a meditação altera as estruturas cerebrais e muda o padrão de suas ondas, protegendo contra a depressão, a ansiedade e os efeitos do stress.
Harvard verificou que a massa cinzenta de quem praticava meditação havia cerca de oito anos era mais densa. De acordo com este estudo, para obter tal efeito não era necessário passar dez horas por dia meditando, como os tibetanos – bastavam 40 minutos por dia, em duas sessões.
As diferenças de densidade apareciam nas áreas do cérebro responsáveis pelo raciocínio, pela atenção e pela tomada de decisões. Foi observada também uma redução na deterioração natural dos neurônios provocada pelo envelhecimento. Os cientistas suspeitam que a meditação, como o exercício físico, possa ser uma das atividades capazes de criar novas células cerebrais – o que, até poucos anos atrás, era tido como impossível.
Trabalhos inovadores por mostrar indícios concretos de que a meditação interfere no cérebro.
A hiperatividade e a falta de concentração das crianças também vêm sendo combatidas com meditação.
Problemas de saúde que frequentemente possuem fundo emocional, como hipertensão, distúrbios gastrintestinais e dores crônicas, também podem ser amenizados com a meditação, de acordo com algumas pesquisas.
O que torna a técnica da meditação atraente é uma coincidência de princípios entre a filosofia oriental e a psiquiatria moderna. Para os monges, a meditação põe em prática um princípio filosófico – fixar-se no presente, desprende-se do passado e não alimentar preocupações inúteis sobre o futuro. Para a psiquiatria, os distúrbios que afetam os maiores números de pacientes são caracterizados peça insistência em remoer frustrações passadas – caso da depressão ou angústia exagerada diante do futuro – caso da ansiedade. Em princípio, qualquer um pode aprender a meditar. Basta concentrar toda a atenção num único pensamento, objeto ou som ao mesmo tempo em que se relaxa o corpo.
Na descrição mais comum, meditar é “Esvaziar a Mente”. É um processo simples e, na realidade, não exige que se pare de pensar. Ninguém consegue parar de pensar totalmente – exceto, segundo Márcia, os monges tibetanos, quando decidem que é hora de morrer. Quem medita tenta aumentar cada vez mais a duração dos intervalos entre um pensamento e outro. Só assim segundo os praticantes, é possível acessar por breve instantes aquilo que o escritor e médico indiano Deepak Chopra chama de “campo do potencial puro”, momento em que a mente parece estar totalmente limpa.
Os pesquisadores, por admiração ou crença, não podem abandonar a análise objetiva das descobertas sobre a meditação, sob pena de deixarem de ser cientistas para serem fiéis.
*A meditação é uma prática, um experimentar e sentir o nosso lado interno. Esta prática consiste essencialmente em uma redução de ritmo do nosso corpo e da nossa mente. Ao sentar-se confortavelmente, com a coluna ereta, relaxado e vigilante, focando a entrada e saída do ar das narinas, já produzimos um pequeno milagre: corpo estático, talvez pela primeira vez em anos, dando-nos chance de respirar tranquilamente, sem outro objetivo que não respirar e observar a respiração.
Quando os pensamentos e emoções vierem, apenas observe, sem se deixar levar por eles, aguardando que passem como nuvens no céu, e voltando a observar a respiração tantas vezes quantas forem necessárias. JL.
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