quarta-feira, 15 de setembro de 2010

À MINHA MULHER.


Quando eu morrer, se for antes de ti
E estiver no caixão, cheio de flores,
Quero que não esqueças do que pedi:
Ergas a cabeça e, por favor, não chores.

Não quero ficar exposto à curiosidade
Pública por muito tempo, já gelado,
E as pessoas, sem nenhuma piedade,
A falar sobre mim e do meu passado.

Quero um velório sem tristeza,
Ninguém a falar sobre fracassos,
Que todos falem com franqueza,
Mas sem mencionar os percalços.

Quero alegria contagiante,
Muita música, principalmente samba,
Quero um ambiente vibrante,
Se for possível, com uma banda.

Não quero – atenção – ser incinerado,
Pois virar cinza me incomoda.
Espero, pois, morrer despreocupado,
Sem essas frescuras da moda.

Como gosto de coroa, até as de flores,
Gostaria de ficar cercado delas,
Pois adoro as diferenças de cores,
Que constituem formas belas.

Quando chegar o crucial momento,
Aquele em que não gostam os vivos,
Comuniques que retardar o sepultamento,
Por mais que se queira, não há motivos.

Mandes, então, uma canção entoar,
Embora saiba que o morto perde a audição.
Restar-me-á o consolo da alma assimilar
Aquilo que foi desejo do coração.

Se, quando se quer, conseguir é possível,
Penso que não encontrarei embaraços,
Levantar-me-ei do caixão horrível,
E, correndo, voltarei para os teus braços.


Nota: embaixo do poema foi inserto o seguinte texto: Esta é uma pequena homenagem, senão mínima, que poderia prestar à minha mulher, que me suporta há mais de cinqüenta anos com altivez e dignidade, inspirando-me a continuar vivendo feliz.
Vitória, 20/08/06.
Um abraço do Levy.

* O poeta enviou-me este  poema lindo. Obrigado Levy. JL.

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