terça-feira, 29 de junho de 2010

O Presídio da Meditação.

 
Em Tihar, nos arredores de Nova Délhi, em um dos maiores estabelecimentos prisionais do mundo contemporâneo, deu-se experiência singular.

Ali, em presídio de segurança máxima, conhecido como um inferno sem solução, onde estão internados mais de treze mil detentos, a criatividade pura e simples de uma diretora, agindo sem recursos e investimentos públicos do governo indiano, foi a campo com a utilização de técnica milenar: a criação de clima favorável ao estabelecimento de estado contemplativo, submetendo os detentos a períodos de meditação profunda, com a finalidade terapêutica de livrá-los de seus sofrimentos pessoais, proporcionando-lhes melhor qualidade de vida.

A técnica, denominada Vipassana (termo que significa “visão interior”), foi inicialmente concebida por Sidarta Gautama, o Buda, e aplicada aos presos indianos acabou por levar ao quase aniquilamento da reincidência, corrupção e uso de drogas nos presídios onde está funcionando. Em razão do sucesso imediato, foi estendida aos funcionários dos estabelecimentos e proporcionou a proliferação de cursos periódicos em uma área especialmente criada para reflexão.

A transformação modelar de Tihar nos últimos treze anos da experiência acabou fazendo-a referência para outros presídios indianos. Mais do que isso, atraiu a atenção de estudiosos e pesquisadores do mundo todo sobre o fenômeno do controle das angústias das populações carcerárias. Mereceu a atenção da psicanálise e da psiquiatria, já que reflexão não é técnica convencional de pacificação de presidiários.

Na verdade, a experiência abriu caminho inédito com a adoção de solução prática e econômica para contenção dos problemas carcerários, transformando a vida na prisão em rotina mais suportável e, por conseqüência, menos violenta. Também são diversos os problemas aqui enfrentados pelas autoridades.

Demandaram pronta solução, será justo reconhecer que a experiência do presídio indiano é uma demonstração forte de que o pragmatismo também é fator determinante no encaminhamento de soluções nos presídios. O que se deu naquela paragem distante foi, na verdade, a modificação radical em um ambiente antes violento e corrupto. Teve o mérito marcante de se basear na criatividade de autoridades públicas no trato com questões polêmicas e, inclusive, no enfrentamento da realidade que permitiu, com o auxílio de métodos não convencionais de cumprimento de pena, o abrandamento da crise.

A experiência contemplativa de Tihar propiciou aos condenados o resgate da dignidade e do sentido do cumprimento da pena. Trabalhou a acumulação das tensões que dominam os ambientes carcerários, trazendo demonstração de que a vocação e a criatividade das autoridades são fatores determinantes para tornar mais justa e equilibrada a vida das populações carcerárias.


*Pode parecer estranho para os padrões ocidentais. Não se nega. A realidade brasileira é bem diversa. Também são diversos os problemas aqui enfrentados pelas autoridades no trato com a delicada questão.
Porém, se considerarmos que no Brasil o desvio do dinheiro público, perdão, a falta de recursos públicos e a urgência para o encaminhamento da crise, são na essência, os mesmos problemas que em Tihar, violência e corrupção...O Brasil gosta muito de construir presídios, mas... por inércia do Estado, o surgimento e fortalecimento de facções criminosas organizadas, instalou-se o caos. Agora, para administrar as corrompidas penitenciárias brasileiras há necessidade de urgência e eficiência, características que, há muito, haviam sido abandonadas na administração pública do sistema. JL.

Nenhum comentário:

Postar um comentário