Tem uma hora na vida de um homem em que ele precisa saber
quando sair de cena. Aliás, essa sabedoria do "quando parar" deveria
ser inato a todos. Homens e mulheres, cada qual sabendo bem quando é a hora
certa de tirar o time de campo. Se esse bom-senso fosse geral, a humanidade se
veria livre de mais um disco do Restart, Michael Jackson não teria se
sobrecarregado e morrido por um novo show, Serra não sairia mais candidato a
nada. Mas não. A gente observa o contrário. Tem gente que insiste no mesmo erro
e não aprende. Que força uma barra danada a troco de coisa alguma, ou de muito
pouco. E eu não quero ser mais um desses que dá cabeçada e não muda. Ontem,
pela última vez, fui a duas casas noturnas. Duas na mesma noite. E me dei conta
que meu tempo passou. Aconteceu, fiquei velho para festas bombásticas. Às
vésperas de completar 36 anos, caiu a ficha que não consigo mais compactuar da
histeria, bebedeira, loucura e hipocrisia que existe na noite e em seus
personagens.
Eu já sabia, mas demorei pra entender de verdade: na balada
ninguém é seu amigo realmente. E a premissa da eterna felicidade da noite com
seus aditivos e barulheira é uma contradição com o que a vida pede da gente no
dia seguinte, com seus compromissos e duras responsabilidades. O erro não está nos
lugares e nas pessoas que querem que eu dance e grite, está em mim. Envelheci.
Aliás, nem dá pra chamar isso de erro. Envelhecer é uma dádiva, ainda que
assuste um pouco. À medida que o tempo passa a gente somatiza rabugices e
manias. Comigo isso fica claro nas baladas. O som muito alto me incomoda. Ter
que socializar o tempo todo também. Lutar como um gladiador por um copo de
vodca com energético mais ainda. A gente passa a se preservar mais também. A
iminência de sempre ter que "se dar bem" fica em segundo plano.
A
cobrança por emanar felicidade a todo momento cai. Você não aceita mais que
espanquem sua conta bancária na saída. Uma hora você decide não ser mais do
agito e se sente melhor. Você se aceita como é, com suas contradições e
realidade. Eu agora quero mais bares e jantar a dois. Mais filme em casa e uma
ou outra festa temática por semestre, como um casamento de amigos, um
lançamento de produto, um encerramento de evento. Enfim, foi bem legal enquanto
durou. Acho que ainda levarei comigo, por muito tempo, um pouco dos milhares de
litros de álcool que consumi nas noites, bem como parte da memória de bocas que
beijei, entre mulheres lindas e outras que nem deveriam ter nascido. Espero que
meu corpo não recorde muito dos cigarros que fumei e nem das vezes que abracei
mais o vaso sanitário do que uma gata que tenha me dado mole. Foi bom enquanto
durou. Mas agora, acabou. A propósito: alguém sabe onde tem um bom lugar para
jogar gamão?
'RC'.
*Muito bom... JL
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