O tomate, quem diria, tem DNA mais complexo do que o do ser humano. Seu
genoma, que acaba de ser decodificado, conta com 31.760 genes, sete mil a mais
do que o nosso. A diversidade genética pode ter salvodo a planta de sucumbir à
mesma catástrofe que matou os dinossauros e a maior parte das formas de vida da
Terra. Agora, seu mapeamento ajudará na produção de variantes mais saborosas,
inclusive fora de sua época tradicional de cultivo.
Um consórcio de geneticistas de 14 países levou nove anos trabalhando com a
planta, cujo cultivo é crescente no mundo. Só em 2010, foram produzidas 145,8
milhões de toneladas. Espera-se que, a partir dos resultados do estudo,
publicados esta quinta-feira na “Nature”, seja possível desenvolver tomates
capazes de sobreviver a pestes e às mudanças climáticas.
A revelação do genoma do tomate abre caminho para variedades mais
nutritivas, saborosas e até com formatos diferentes. Elas podem ser produzidas
tanto por cruzamento tradicional quanto por engenharia genética. Os dados têm
aplicação para outras culturas da família Solanaceae, como berinjelas
e pimentas.
Os cientistas sequenciaram os genomas das variedades Heinz 1706 (Solanum
lycopersicum), usado no ketchup, e de seu parente selvagem mais próximo, a
Solanum pimpinellifolium, dos Andes peruanos, berço dos ancestrais do
tomate.
O fato de o fruto ter mais genes do que o homem não quer dizer que ele seja
mais sofisticado; apenas que escolheu uma estratégia diferente para organizar
seu DNA.
Os seres humanos fazem uso de uma técnica conhecida como splicing
alternativo, permitindo que os componentes de cada gene sejam montados em
muitas formas diferentes. Assim, um gene pode ter várias funções.
Já a família Solanaceae desenvolveu complexidade genética pela
aquisição de genes. Cerca de 70 milhões de anos atrás, algum imprevisto
resultou na triplicação do genoma da planta. Normalmente a triplicação de um
genoma seria uma desvantagem, sobrecarregando a planta com uma DNA maior do que
o necessário. Mas este evento ocorreu numa época de grande estresse ambiental,
quando houve extinção dos dinossauros, e esta versatilidade genética inesperada
pode ter salvado a espécie.
É fácil pensar que, neste período, com muita atividade vulcânica e pouca luz
solar, a reserva de genes foi útil para uma planta, explica Jim Giovannoni,
geneticista do Instituto Broyce Thompson de Pesquisa de Plantas, nos EUA.
* Tais mudanças influenciam diretamente a qualidade nutricional dos tomates
e a maneira de consumi-los. Tomates verdes podem ser consumidos sem gordura
vegetal, como azeite de oliva. Já os tomates vermelhos devem ser consumidos com
óleo vegetal, para um melhor aproveitamento de suas qualidades nutricionais.
Tomates são ricos em carotenóides, tocoferóis e polifenóis. Os carotenóides
são antioxidantes lipofílicos (solúveis em gordura), são precursores de
substâncias aromáticas e exercem diversas funções bioquímicas nas plantas. JL
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